18 de abr. de 2019

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “Evolve Children’s Therapy Services, Ltd”, explica o que é a Terapia Ocupacional e de que forma esta terapia ajuda as crianças com autismo. Corinna fala do papel essencial da intervenção da Terapia Ocupacional no autismo e dá alguns exemplos de intervenções terapêuticas bem como estratégias simples direcionadas para as disfunções de processamento sensorial.

O que é a Terapia Ocupacional? Porque é que é importante para as crianças com espectro de autismo?

As crianças com autismo e com perturbação da hiperatividade com défice de atenção (PHDA) tendem a apresentar padrões de processamento sensorial diferentes dos seus pares e de crianças com necessidades educativas especiais (NEE).
Estima-se que cerca de 60% a 70% das crianças com perturbação do espectro de autismo apresentam uma disfunção no processamento/modulação sensorial (Adamson, 2006). Estudos demonstram que as pessoas com autismo demoram mais tempo a integrar os inputs que recebem dos sentidos, tornando a sua velocidade de processamento mais lenta. Isto permite justificar porque é que as crianças com autismo são frequentemente sujeitos passíveis de “colapso”. Estas crianças carecem de “filtros” que eliminem a informação irrelevante e isto pode causar o colapso uma vez que cada input é guardado sem ser filtrado correctamente. Por exemplo, é possível que a criança com autismo ainda esteja a processar um ruído que ouviu de manhã no corredor da escola enquanto tenta ao mesmo tempo lidar e processar os inputs do professor e dos colegas de sala. Como um aluno uma vez disse “eu não sou capaz de continuar a ler porque os meus olhos estão cheios neste momento”.
A sobrecarga sensorial pode apresentar-se de diferentes formas tais como com um comportamento desafiante, desistência ou paralisação total.
Existem no entanto, um conjunto de estratégias simples que podem ser utilizadas em casa ou na sala de aula que permitem adicionar de forma efetiva os filtros que estas crianças necessitam. Os terapeutas ocupacionais são a chave para esta intervenção. Adicionando os filtros apropriados e intervindo de forma a dar resposta a cada sistema sensorial permite que o sistema nervoso da criança se torne mais organizado/regulado, ajudando a criança a melhorar a atenção e o desempenho.

O que é a Terapia Ocupacional?

Os terapeutas ocupacionais trabalham para promover, manter e desenvolver as competências necessárias para que os alunos sejam funcionais no contexto escolar ou noutros contextos. A participação ativa na vida promove:
  • – Aprendizagem
  • – Auto-estima
  • – Auto-confiança
  • – Independência
  • – Interação social
Os terapeutas ocupacionais recorrem a uma abordagem holística nos seus planeamentos de intervenção. Eles têm em conta as competências físicas, sociais, emocionais, sensoriais e cognitivas, assim como as necessidades dos estudantes no momento em que realizam o plano de intervenção.
No caso do autismo, o terapeuta ocupacional intervém de forma a desenvolver competências para escrever, de motricidade fina e da vida diária. No entanto, o papel mais importante é também avaliar e intervir nas disfunções de processamento sensorial. Isto irá permitir remover barreiras de forma a ajudar os alunos a aprender e a tornarem-se mais calmos e focados.
Os terapeutas ocupacionais que trabalham com crianças com distúrbios do processamento sensorial frequentemente têm formação complementar à licenciatura, em integração sensorial.
A integração sensorial assenta no pressuposto que a criança ou é “sobrestimulada” ou é “subestimulada” pelo ambiente. Nesse sentido, o objetivo da integração sensorial é melhorar a capacidade do cérebro de processar a informação sensorial de forma a que a criança consiga desempenhar melhor as suas atividades da vida diária.
Frequentemente, o terapeuta ocupacional elabora uma dieta/estilo de vida sensorial.

O que é uma dieta/estilo de vida sensorial?

Muitos de nós aprendemos, inconscientemente, a combinar os nossos sentidos (visão, audição, olfacto, toque, degustação, equilíbrio, noção do corpo no espaço) de forma a dar sentido ao nosso ambiente. Cada criança tem necessidades sensoriais únicas que dependem do humor, do ambiente e da intervenção terapêutica.
Uma dieta ou estilo de vida sensorial é um plano de atividades diárias específico. Este plano pretende introduzir atividades sensoriais na rotina da criança de forma a promover o foco, a atenção e assegurar o bem-estar (regulação) da criança durante todo o dia. Da mesma forma que o nosso corpo necessita de comida, na quantidade certa e em diferentes momentos do dia, ele também precisa de atividades que permitam manter o nível de excitamento/estimulação ideal.
A dieta/estilo de vida sensorial ajuda a organizar o sistema nervoso da criança e, por conseguinte, a melhorar a atenção e desempenho da criança. Um terapeuta ocupacional qualificado é capaz de desenvolver uma dieta sensorial efetiva de forma a que o estudante possa implementar na sua rotina.

Que aspetos a dieta/estilo de vida sensorial procura abordar?

Os efeitos da dieta sensorial podem ser imediatos e cumulativos:
  • – Ao longo do tempo, eles permitem restruturar o sistema nervoso do aluno de forma a que ele seja mais capaz de tolerar sensações e situações que ele considere desafiantes/distrativas
  • – Permitem e ajudam o estudante a regular a atenção e capacidade de concentração
  • – Limitam comportamentos de procura ou evitação sensorial e lidam com as transições com menor stress.
Isto permite à criança manter o foco na tarefa/atividade que está a realizar em vez de estar distraída com outros estímulos, como por exemplo a etiqueta da camisola que está a roçar no pescoço, o cheiro de um creme de mãos ou um barulho proveniente do exterior.
Para uma pessoa com dificuldades de processamento sensorial é difícil processar e agir de acordo com a informação recebida através dos sentidos, o que cria desafios no desempenho das tarefas do dia a dia e pode resultar, por exemplo, em dificuldades na coordenação motora, problemas comportamentais, ansiedade, depressão, insucesso escolar, etc., caso não receba um acompanhamento e intervenção apropriados.
As disfunções de processamento sensorial podem existir na ausência de diagnóstico de perturbações de autismo.

Circuitos Sensoriais

Os terapeutas ocupacionais frequentemente recomendam que o dia seja iniciado com um circuito sensorial: uma atividade sensoriomotora que ajuda a criança a alcançar o estado de “preparado para aprender”. Os circuitos sensoriais são uma série de atividades desenhadas especificamente para “acordar” todos os sentidos. São uma ótima forma de estimular ou preparar a criança para o dia. Cada sessão inclui:
  • – Atividades de alerta (exemplo: girar, saltar numa bola de ginásio, saltar à corda, “jumping jacks / star jumps”) para estimular o sistema nervoso central para preparar a criança para aprender
  • – Atividades organizadoras (exemplo: manter o equilíbrio sobre uma tábua/prancha de equilíbrio ou num tronco, fazer malabarismos)
  • – Atividades relaxantes (trabalho muscular exigente ou de pressão profunda, exemplo: empurrar a parede, flexões, uso de pesos) de forma a consciencializar a noção do corpo no espaço e a promover a capacidade de auto-regular inputs sensoriais.
Está provado que a intervenção da Terapia Ocupacional tem impacto no melhoramento da comunicação, competências de interação, competências motoras nas crianças consideradas “difíceis de alcançar”. As crianças ficam mais reguladas após a intervenção o que reduz a ansiedade e promove oportunidades de prosperar neste ambiente sobrecarregado em que nós vivemos.

10 estratégias simples

    1. 1. Para a criança que se sente assoberbada com o excesso de barulho, ofereça-lhe uns tampões para os ouvidos ou deixe-a utilizar o MP3 enquanto se tenta concentrar.

    1. 2. Para a criança que fica agitada com o toque, deixe-a sentar-se na sala numa mesa da primeira fila ou da última fila para evitar receber encontrões. Deixe-a sair cerca de 3 minutos mais cedo que os restantes colegas para a aula seguinte para evitar colisões nos corredores.

    1. 3. Para a criança que tem dificuldades em manter-se sentada ou quieta, inclua pequenos intervalos de movimento. Explore algumas alternativas que se possam colocar na cadeira, por exemplo: uma almofada de equilíbrio permite “movimentos nervosos” constantes.

    1. 4. Para crianças que gostam de abraços experimente roupa interior de lycra (exemplo aquelas t-shirts que se utilizam no mar/para surfar).

    1. 5. Para a criança que tem dificuldades de ver textos de letra preta num papel branco, substitua por papel colorido. Isto será menos stressante para os olhos. Tenha isto em conta também para apresentações nomeadamente apresentações no Powerpoint.

    1. 6. Se a criança se sente sobrecarregada com o cheiro, utilize uma daquelas fitas de pulso para a transpiração e coloque uma gota de óleo, champô ou perfume de que a criança goste. Deixe-a utilizar isto no dia a dia de forma a disfarçar o cheiro que ela considera desconfortável.

    1. 7. Brincar com a comida deve ser encorajado em casos de crianças que têm uma dieta limitada. A criança não deve sentir pressão para comer e isto não deve ser feito durante a hora das refeições. O objetivo é simplesmente reduzir o medo que a criança tem da comida.

    1. 8. O uso de espaços/salas de relaxamento e silêncio dentro da sala de aula ou em casa é essencial para o relaxamento. Recorra a uma tenda improvisada com lençóis sobre a mesa e adicione sacos de areia ou feijão, brinquedos sensoriais etc.

    1. 9. Para crianças que gostam de mastigar ofereça-lhe alternativas como brinquedos comercializados com esse propósito, pauzinhos de pão crocantes ou cenouras.

  1. 10. Para as crianças que não gostam de lavar os dentes experimente utilizar aquelas escovas vibratórias e pastas dentífricas sem sabor.

Texto traduzido a partir de: Why is occupational therapy important for autistic children?

16 de abr. de 2019

INDICADORES DE DISFUNÇÃO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL



Nem todas as crianças com problemas de aprendizagem, desenvolvimento ou comportamento têm problemas de I.S., entretanto, há certos indicadores que podem mostrar aos pais que tal distúrbio pode estar presente. A seguir, uma lista de alguns dos sinais possíveis:


·         Sensibilidade excessiva a toque, movimento, sons ou estímulos visuais.
Isto pode se manifestar em comportamentos tais como irritabilidade ou distanciamento, no evitar tocar certas texturas de roupas ou comida, ou uma reação de medo a  atividades que envolvem movimento comum tais como brinquedos no parquinho.
·         Diminuição da  reação a estimulação sensorial
Em contraste à criança hiper-sensível, uma criança com sensibilidade diminuida pode procurar experiências sensoriais intensas tais como girar o corpo ou bater-se em objetos. Tal criança pode não perceber dor ou a posição do corpo. Algumas crianças flutuam entre os extremos de hiper e hipo resposta.
·         Nível de atividade alto ou baixo demais
A criança pode estar constantemente em movimento ou pode ser lenta  e cansar rapidamente. Também aqui, algumas crianças podem flutuar de um extremo a outro.
·         Problemas de coordenação
Pode ser visto em  atividades de coordenação grossa ou fina. Algumas crianças podem ter equilíbrio ruim enquanto outras têm grande dificuldade em aprender a fazer uma nova tarefa que requeira coordenação motora.
·         Atraso na fala, linguagem, habilidades motoras ou aquisições acadêmicas
Estes podem ser evidentes na criança em idade pré-escolar em conjunto com outros sinais de dificuldade em I.S. Em uma criança de idade escolar, pode haver problemas em algumas áreas acadêmicas apesar de inteligência normal.
·         Dificuldade em organizar o comportamento
A criança pode ser impulsiva ou  distraída e mostrar falta de planejamento no modo de abordar tarefas. Algumas crianças têm dificuldade em se adaptar a situações novas; outras podem reagir com frustração, agressão ou isolamento quando não são bem sucedidas.
·         Problema com auto-estima



Algumas vezes a criança que vivencia os problemas mencionados acima não se sente bem. Uma criança inteligente com esses problemas pode sentir que algumas tarefas são mais difíceis para ela que para os outros, mas não sabe porque. Pode parecer preguiçosa, entediada ou desmotivada. Algumas crianças logo descobrem modos de evitar as tarefas que são difíceis ou a envergonham. Quando isso acontece, pode ser considerada difícil ou teimosa. Quando é difícil entender um problema pais e crianças podem se culpar. Tensão familiar, problema com auto conceito e um sentimento geral de falta de esperança pode prevalecer.

Tipicamente, uma criança com distúrbio de I.S. apresenta mais de um dos sinais acima. Se você suspeita que seu filho se encaixa nesse quadro, deve solicitar uma avaliação por terapeuta ocupacional com conhecimento de I.S. Os resultados da avaliação vão indicar se há um distúrbio de I.S. e lhe darão um perfil das habilidades de processamento sensorial de seu  filho em diversas áreas.

A avaliação consiste tanto de testes padronizados como de observações estruturadas de respostas a estímulos sensoriais, postura, coordenação e movimentos dos olhos. A  terapeuta ocupacional (TO) que conduz a avaliação poderá também observar o brincar espontâneo e pode lhe pedir informação sobre o desenvolvimento e padrões típicos de comportamento. Uma avaliação completa geralmente requer de uma hora e meia a três horas. Após a avaliação você receberá um relatório que lhe dará os escores dos testes e uma interpretação dos resultados. A terapeuta também fará recomendações sobre tratamento, se apropriado.

Existem testes específicos para avaliação de I.S. O mais usado é o Teste de Integração Sensorial e Praxis (SIPT). Este teste precisa que os escores sejam mandados para os EUA para obtenção dos resultados. Avalia o  funcionamento da criança nas seguintes áreas:

·         Percepção visual
·         Processamento somato-sensorial (tato e propriocepção)
·         Processamento vestibular

·         Coordenação viso-motora

·         Planejamento motor ou praxis


Se sua criança tem problemas especiais ou não for de idade adequada para esse teste, outros testes e métodos de avaliação podem ser selecionados pela terapeuta. É apropriado perguntar à T.O. quando e onde ela foi treinada em avaliação de I.S.

Depois de uma análise cuidadosa dessa avaliação, juntamente com informação de outros profissionais e pais, a terapeuta fará recomendações a respeito de terapia usando procedimento de I.S.

Essas recomendações são feitas com base  no grau,  natureza e severidade do problema de I.S. assim como na pesquisa que identifica que tipos de problemas, respondem melhor a certas abordagens terapêuticas. Para crianças com disfunção de I.S. pode ser recomendada T.O. usando técnicas de I.S. Para  aquelas em que a avaliação é sugestiva, mas não indica claramente disfunção I.S. a terapia pode ser recomendada como triagem para determinar se a criança responde a esse tipo de abordagem terapêutica. Para outras ainda, T.O. pode não ser recomendada e a criança pode ser encaminhada para outro tipo de profissional ou podem ser dadas orientações aos pais e escola sobre como ajudar a criança.

19 de fev. de 2019

Intervenção da Integração Sensorial de Ayres: Elementos Essenciais

INTERVENÇÃO BASEADA NOS PRINCÍPIOS DE IS DE JEAN AYRES


Segundo Mailloux¹ a fidelidade aos preceitos básicos preconizados por Ayres, é essencial para assegurar que a intervenção seja realmente o que afirma ser. Embora possa parecer questão irrelevante, a ausência de lealdade aos elementos estruturais e processuais da Integração Sensorial vem repercutindo em equívocos no âmbito da produção científica e possivelmente da prática clínica.

Desde 2013 vem sendo conduzidos, no Brasil, treinamentos™ da Medida de Fidelidade© da Intervenção de Integração Sensorial de Ayres® (ASI)² com objetivo de treinar especialistas para tornarem-se avaliadores da confiabilidade aos princípios desenvolvidos originalmente pela Dra. A. Jean Ayres.

Os itens da Medida de Fidelidade da Intervenção de Integração Sensorial de Ayres são subdivididos em elementos estruturais e processuais nos quais se inclui:

formação do terapeuta é ponto essencial e sugere-se que seja feita uma pesquisa prévia sobre a os cursos realizados (carga horária), instituição, certificação e formação continuada do profissional que se nomeia como Terapeuta Especializado em Integração Sensorial.
Conhecer previamente o ambiente no qual a abordagem é conduzida, fornece informações sobre o nível de fidelidade aos preceitos da abordagem, bem como os aspectos de segurança que são primordiais nesta terapia. Tapetes, colchões, almofadas, avaliação sistemática dos equipamentos, entre outros são exemplos de vigilância nesta área.

Os relatórios de avaliação devem conter as informações necessárias para compreensão da criança, razões do encaminhamento, metodologia de avaliação aplicada, resultados e objetivos de tratamento sob a ÓTICA da teoria de Integração Sensorial.

espaço e equipamentos necessários para condução desta abordagem de tratamento sâo pontos centrais na medida em que é definitivamente impossível aplicar-se a abordagem, em sua essência, se não houver condições concretas para tal. Sala ampla, dispositivos para equipamentos suspensos (permitindo diferentes direções de movimentos), balanços, redes, skate/ rampa, câmeras de ar, lycra, cordas, almofadas e brinquedos diversos compõem o ambiente terapêutico.

Explicitar a influência dos aspectos de Integração Sensorial no comportamento e desempenho da criança, e esclarecer sobre o tratamento em curso é responsabilidade do terapeuta sendo de extrema a importância a comunicação entre o terapeuta, os pais e professores.

Em publicação de Parham et al., (2011) os autores apresentam a relação dos elementos  processuais que caracterizam a intervenção de IS de Ayres®. Fruto de estudos realizados desde 2003, estes elementos expressam o constructo da IS, nos moldes preconizados por Ayres. Identificar a presença destes elementos na intervenção diferencia entre a terapia que se diz de IS e aquela que realmente o é.

Manipular os equipamentos adequadamente, prevenir acidentes e manter-se atenta, próxima a criança e, portanto assegurar a segurança física da criança, por razões obvias, é o primeiro elemento da lista.

Na medida em que esta abordagem tem como eixo central a oferta organizada de estímulos táteis, vestibulares e proprioceptivos a disponibilidade destes estímulos deve estar presente. Cabe ao terapeuta a correta manipulação dos mesmos, graduando intensidade, frequência e duração, de maneira a alcançar a melhora nas áreas do alerta, atenção e envolvimento na atividade.

Atividades que estimulam o desenvolvimento das habilidades motoras caracterizam esta terapia. Neste sentido os componentes de controle postural, ocular, oral e integração bilateral são alvo da intervenção através de brincadeiras que demandam força, equilíbrio, dissociação de movimentos, controle do movimento segundo as variáveis de espaço e tempo que certamente resultam em melhora da motricidade ampla e fina.

As habilidades de ideação, planejamento, sequenciamento e execução de atividades motoras novas que definem a práxis e requerem a organização do comportamento são metas da terapia. Isto significa que a execução de exercícios pré estabelecidos, roteiros antecipadamente estruturados ou definição exclusivamente por parte da terapeuta não configuram a terapia proposta por Ayres. Aqui reside talvez o maior desafio do terapeuta: como favorecer estas habilidades? Não se trata de deixar a criança “solta” ou esperar indefinidamente, até que ela “idealize” adequadamente e se mantenha numa brincadeira, que favoreça seu desenvolvimento. Afinal, se ela o fizesse provavelmente não precisaria da terapia. Nesta área se coloca o desafio do terapeuta de incentivar, apoiar, estimular, engajar, direcionar e contribuir positivamente para que ela efetivamente desenvolva suas habilidades.

Como explicitado acima as escolhas de atividades são compartilhadas entre a criança e a terapeuta. O poder da preparação prévia de todo o sistema (motivacional, intelectual, sensorial, perceptual e motor) quando a atividade é idealizada pela criança foi assinalado por Ayres e, portanto este aspecto também deverá estar presente na terapia. Contudo ter idéias plausíveis, considerando suas competências atuais e os aparatos externos não é tarefa fácil. Cabe ao terapeuta desenvolver habilidades para observar os interesses da criança, estruturar o ambiente e favorecer respostas adaptativas, de complexidade crescente, encorajando paulatinamente o auto-direcionamento.

A máxima: “desafio na medida certa” é palavra de ordem na terapia de IS. As manifestações verbais, gestuais, emocionais e/ou comportamentais da criança devem ser monitoradas ao longo da sessão para que eventuais ajustes sejam empreendidos quando necessário. Respostas adaptativas são a meta e para tal o terapeuta poderá lançar mão de modificações nos equipamentos, nas etapas da atividade, na brincadeira propriamente dita para que o desafio não seja pequeno, de forma que a criança desanime ou se entedie, ou tão grande que a criança se frustre. Neste sentido modificações são colocadas em pratica para que a criança seja bem sucedida nas atividades.
Pelo exposto acima se pode inferir que  na terapia de IS a motivação intrínseca da criança para brincar é valorizada e peça central, na medida em que as habilidades da criança são estimuladas num contexto lúdico e prazeroso. O terapeuta utiliza diferentes recursos para criar uma atmosfera onde prevaleça a confiança e parceria na qual a criança se sinta motivada e valorizada.  O terapeuta estabelece uma aliança terapêutica com a criança resultante da empatia, respeito, valorização e consideração das suas necessidades e peculiaridades.

Esperamos que brevemente a atuação dos avaliadores da Medida de Fidelidade torne-se realidade, na medida em que a observância destes princípios é primordial, para o avanço consistente e adequado desta abordagem no Brasil. Neste ínterim, a divulgação deste conhecimento poderá instrumentalizar os terapeutas de IS, membros da equipe terapêutica e, acima de tudo clientes e familiares para o controle da qualidade do serviço prestado.

Contribuição de Maria Cristina de Oliveira, terapeuta ocupacional

Bibliografia: Mailloux Z , 05/2013 Curitiba, Brasil Apostila de Treinamento da Medida de Fidelidade© da intervenção da Integração Sensorial de Ayres ®.
Parham ET.al., Fidelity in Sensory Integration Intervention Research AJOT March- april 2007, 61:216-27.
Parham et al., Development of a Fidelity Measure for Research on the Effectiveness of the Ayres Sensory Integration Intervention AJOT March- april 2011, 65 (2):  133-42.

Fonte:http://integracaosensorialbrasil.blogspot.com.br/2014/09/intervencao-baseada-nos-principios-de.html

Dislexia

dislexia
Tem muita gente disléxica no mundo, mais do que você imagina pois, ser disléxico é ter um cérebro diferente, que processa as informações de sons e leitura, de uma maneira mais tortuosa do que aquelas que estamos habituados. Só isso.
Vou falar aqui neste artigo sobre essa “coisa chata” da dislexia, um pouco para explicar o que é e o que não é, um pouco para você ter alguma linha para pesquisar se o sintoma que observa no seu filho pode ou não ser dislexia, um pouco para abrir o campo de discussão de um “jeito de ser, normal, que é tido como deficiência mas não o é”!
“Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de aprender; reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta e até genial, mas que aprende de maneira diferente”.
A Dislexia“é considerada um transtorno específico de aprendizagem de origem neurobiológica, caracterizada por dificuldade no reconhecimento preciso e/ou fluente da palavra, na habilidade de decodificação e em soletração.
Essas dificuldades normalmente resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem e são inesperadas em relação à idade e outras habilidades cognitivas. (Definição adotada pela IDA – International Dyslexia Association, em 2002. Essa também é a definição usada pelo National Institute of Child Health and Human Development – NICHD)”.
Quer dizer, é uma dificuldade de se juntar letras a sons, palavras a sons, de se reconhecer palavras pois não se lhes conhece o som, enfim, e tudo isso resulta numa dificuldade extrema de leitura e escrita, aos olhos do sistema educativo imperante. Isso quer dizer que seu filho é atrasado, preguiçoso, desatento ou incompetente? Não!
Só quer dizer que a forma de ensinar que a sociedade ocidental adotou como norma não o consegue enquadrar em seus limites. Aliás, muitos são os gênios disléxicos reconhecidos pela história da humanidade, sabia?
Os disléxicos, em geral, têm QI acima da média, é um fato e, se ajudados quando crianças, atingirão o sucesso, com certeza pois, a dificuldade que têm é devida à diferença de funcionamento do seu cérebro, se comparada com a média.
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Mas, para além da dificuldade com a linguagem, a dislexia, também existe a dificuldade com cálculos, discalculia, com sons, com a escrita, disgrafia, dificuldade com a fala, dislalia, e qualquer dessas dificuldades de aprendizado deverão ser, devidamente, diagnosticadas para que se possa, de verdade, escolher a melhor maneira para ajudar a criança.
Também existem aquelas crianças que não param quietas na cadeira, que põem atenção em tudo “que lhes interessa”, que não se encaixam no modelo quadrado de ensino da nossa sociedade e que, algumas vezes são catalogadas como “hiperativos”, “tdah” ou algum outro rótulo que vai depender da escola médica à qual pertence o especialista que avalie a criança.
Se for essa a sua dúvida, lembre-se que essa discussão existe e não é conclusiva - nos EUA uma grande porcentagem de crianças é diagnosticada como tdah, e medicada com ritalina e outros e, na França, por exemplo, só em 2015 é que se aceitou (por pressão de quem, não sei) que existe o problema, com ou sem hiperatividade (leia aqui e aqui). Mas, de diagnóstico errado o mundo sempre esteve cheio, não é?
Então, se você me seguiu até aqui, dê uma olhada na lista de possíveis sinais que podem indicar a presença de dislexia, que eu copiei do site da Associação Brasileira de Dislexia.

ALGUNS SINAIS DE DISLEXIA NA PRÉ-ESCOLA

  • Dispersão
  • Fraco desenvolvimento da atenção
  • Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem
  • Dificuldade de aprender rimas e canções
  • Fraco desenvolvimento da coordenação motora
  • Dificuldade com quebra-cabeças
  • Falta de interesse por livros impressos

ALGUNS SINAIS DE DISLEXIA NA IDADE ESCOLAR

  • Dificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita
  • Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras)
  • Desatenção e dispersão
  • Dificuldade em copiar de livros e da lousa
  • Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos, pinturas etc.) e/ou grossa (ginástica, dança etc.)
  • Desorganização geral, constantes atrasos na entrega de trabalho escolares e perda de seus pertences
  • Confusão para nomear entre esquerda e direita
  • Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas etc.
  • Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas
Esses sinais têm, naturalmente, a ver com a maturidade da criança, a fase escolar na qual se encontra, o grau de ansiedade que suporta em casa ou na escola, por exemplo. Uma criança pequena que se sente muito pressionada por problemas na família até poderá apresentar alguns desses sinais, independente de ser ou não disléxica (bem, até nós, grandes, sob pressão, damos uma “rateada” de vez em quando, não é?).
Mas, se desconfia, consulte um psicopedagogo - saiba que não existe idade para se diagnosticar a dislexia e que, em qualquer tempo, o tratamento (que não é medicamentoso, já te aviso) fará um bem enorme ao disléxico.
Agora, onde há um disléxico asseguro que há mais, viu? A dislexia é uma condição genética e neurológica pois deriva de uma particularidade cromossômica, e que não tem cura mas tem adaptação. Portanto, se um filho tem, outros podem ter também e, talvez, até você mesma (lembra de algum desses sintomas quando você era criança?).
Bom, e nunca se esqueça que cada um de nós é um indivíduo, com suas particularidades, idiossincrasias, jeitos e feitios, inclusive alguns defeitos (kkkkk) que vieram de herança ou foram aprendidos e que nos fazem o todo que somos. E esse todo, inclusive com as nossas diferenças, é que nos torna, afinal, indivíduos muito especiais!

22 de mar. de 2018

Controle de esfíncteres: "remover a fralda" ou "abandonar a fralda"?


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Hoje temos muitas informações sobre o funcionamento do sistema nervoso, também sabemos muito mais sobre o sistema emocional e suas conseqüências, mas há momentos em que, em vez de usar todo esse conhecimento para entender a criança e poder acompanhá-la em seu desenvolvimento, continuamos usando dicas antigas que não levam em conta esses aspectos, sendo algumas inclusive prejudiciais. Parece fácil que uma criança deixe de usar fralda, mais cedo ou mais tarde ela aprenderá a controlar seus esfíncteres, mas cabe a nós respeitar esse processo ou tentar acelerá-lo e, portanto, a criança vai viver esse processo de uma forma ou de outra.



O que é?
Chama-se de controle do esfíncter saber identificar quando você tem vontade de fazer xixi ou cocô e pode controlar sua saída até que esteja em um local adequado para fazê-lo. Isso parece fácil, certo?
Porém algo que os adultos acham tão simples, envolve mecanismos neurológicos, motores e emocionais que devem funcionar de forma coordenada.
Quando um bebê nasce, este sistema não é maduro, então lhe colocamos uma fralda. Depois o bebê começa a se desenvolver seguindo duas leis: a céfalo caudal e a próximo distal, de acordo com a primeira, a criança amadurece de cima para baixo, da cabeça aos pés, por isso ela poderá sustentar sua cabeça bem antes de andar. Quando a bexiga ou reto estão cheios, essa informação atinge a parte sacral da medula espinhal, uma área muito baixa da coluna vertebral, para que possamos entender que é um processo que não estará entre os primeiros a aparecer.
Por outro lado, o esfíncter voluntário precisa amadurecer (temos 2 esfíncteres, um interno, involuntário e outro externo e voluntário). Este músculo precisa amadurecer para que a criança possa contrair, fechar e decidir reter sua saída até chegar ao lugar certo para fazê-lo. E falamos de maturação, não de aprendizado porque não podemos ensinar-lhe como fazer tudo isso, assim como não podemos ensinar o que deve fazer para secretar certos hormônios.
O cérebro também tem um grande papel neste processo, entre outras coisas, é responsável por decidir quando fazer xixi e quando não, tomar conhecimento do corpo, quando avisar. Mas o cérebro humano não está maduro no nascimento, ele se desenvolve de baixo para cima, de dentro para fora e de trás para frente. Portanto, a parte do córtex, que decide, que inibe fazê-lo se não for adequado, que avisa é a última a amadurecer porque está na parte mais externa do cérebro, e para que a informação chegue da bexiga (notar que está cheia) até o cérebro deve subir através da medula espinhal, através do cérebro inteiro de baixo para cima para chegar ao córtex. No meio do cérebro está o sistema emocional do ser humano, de modo que toda a informação dos esfíncteres e sua experiência passa pelas emoções antes de chegar ao córtex, daí o porquê é de extrema importância como a criança vive o processo de controle do esfincter (se ela for repreendida, se for forçada, se sofrer comparação, se sentir dor) essas emoções serão gravadas no cérebro e é como ela vai vivê-la nas próximas vezes. Também nos permite entender que ante certas circunstâncias que afetam a criança emocionalmente estas podem levá-la a voltar a fazer xixi, cocô (como o nascimento de um irmão, mudar de escola, etc). Uma vez que a informação chega ao córtex, ela volta para a medula até a bexiga.
Além da maturação fisiológica, é necessário algo mais: a criança querer fazê-lo.
Com a informação que temos hoje, vemos que o controle de esfíncteres é muito mais complicado do que simplesmente sentar a criança em um vaso sanitário em determinados momentos e que é um processo de maturação e não de aprendizado.
Quando se aprende a controlar os esfíncteres?
À medida que a criança cresce, seu sistema nervoso amadurece, mas nem todas as crianças amadurecem ao mesmo tempo. É um processo que precisa de tempo e que apresenta múltiplos avanços e contratempos.
Como as crianças nascem em todos os meses do ano e cada uma amadurece a seu próprio ritmo, haverá crianças que deixarão a fralda no verão, outras no outono, outras na primavera e outras no inverno. É costume esperar o verão para "remover a fralda", mas se uma criança estiver pronta, ela molhará pouca roupa e isso parece ser o único motivo por que esta temporada é esperada.
Em relação à idade, depende de cada criança e a margem é muito ampla, geralmente é estabelecido que esta maturação de que falamos aparece entre 18 meses e 5 anos.
De acordo com Schore (1996) "até 18 meses ou mais, a criança não tem amadurecidas as conexões entre o cérebro, o sistema nervoso autônomo e os músculos do esfíncter que lhe permitem tornar-se consciente de seus estados corporais internos e voluntariamente controlar a evacuação de fezes e urina".
Villamarín em seu livro Cirurgia Pediátrica, afirma: "Aos quatro ou cinco anos de idade, o reflexo da micção deve ser totalmente integrado no córtex central. A criança agora está ciente do desejo de urinar, bem como possui a capacidade de iniciar, interromper ou adiar a micção pela contração da musculatura voluntária e relaxamento do detrusor".
De acordo com o DSM IV, que é o manual utilizado por clínicos e pesquisadores nas ciências da saúde para diagnosticar diferentes transtornos mentais, se estabelece desordem de eliminação quando uma criança não controla fezes após 4 anos e urina a partir de 5 anos; chegada essa idade é quando se deve fazer uma avaliação do caso (o que não significa que haja um problema). De acordo com a Academia Americana de Psiquiatria é completamente normal não controlar os esfíncteres até as idades indicadas.
Como sabemos se elas estão prontas?
As crianças começam a dar sinais de que estão amadurecendo, mas não devemos cair no erro de confundir esses sinais com que a criança já está preparada e controla esfíncteres. Alguns desses sinais são:
 Percebe o que estamos fazendo no banheiro (desde que nos vejam), isto é, tem curiosidade.
 Remove e abaixa a roupa.
 A fralda está seca.
 Quer sentar no vaso ou no penico.
 Ela se esconde para fazer cocô (como os adultos).
 Ela começa a dizer que tem xixi ou cocô depois de fazê-lo (que ela tenha consciência não indica que ela controle os esfíncteres), então ela começa a nomeá-lo quando faz e finalmente aprende a avisar antes.
 Geralmente, elas primeiro aprendem a controlar o cocô noturno, depois durante o dia, seguido do controle diurno do xixi e, finalmente, controle noturno da urina.
E à noite?
O controle da urina noturna é diferente do diurno e é devido a um hormônio do ADH, é um mecanismo diferente e mais lento.
O que podemos fazer?
A primeira coisa a ter em mente é como a criança se desenvolve. Muitas vezes, o melhor seria não fazer nada, a criança aprenderá porque é uma questão de maturidade, nenhum adulto saudável faz xixi ou cocô nas calças, o que significa que o ser humano como espécie controla os esfíncteres.
Existem muitas técnicas para conseguir isso, algumas mais precisas do que outras, mas a verdade é que, o que quer que façamos, a criança a longo prazo acabará por controlar os esfíncteres, mas como ela viveu esse processo, quais as repercussões que ela terá a longo prazo (ou mesmo a curto prazo) é o que diferencia algumas técnicas das outras.
Nós podemos:
 Explicar o que é o penico e para que serve (a criança não é um adivinho).
 Deixá-las nos ver quando vamos ao banheiro, com naturalidade (desde que não nos incomode). Todos nós fazemos xixi e cocô, é uma necessidade do nosso corpo como o é comer, então devemos vivê-lo como algo natural, evitando comentários do tipo "Eca, que nojo".
 Permitir que conheça seu corpo e o explore. Primeiro elas precisam conhecer a si mesmas para poderem entender no outro.
 Especialmente quando são bebês, permitir a liberdade de movimento: não colocá-los em posições que eles não consigam por si mesmos, não sentá-los até que o façam sozinhos, não colocá-los em pé, evitar o uso de cadeirinhas de balanço, dispositivos que não os deixem mover-se livremente, uma vez que esses movimentos e posturas que eles descobrem são o que lhes permitirá tonificar seus músculos e não forçá-los, uma vez que a pressão sobre o assoalho pélvico é excessiva quando os músculos não estão bem tonificados.
 Pôr em palavras o que acontece.
 Chamar as coisas pelos seus nomes. Se dizemos que o que sai do bumbum é caca, o que está no chão deve ser sujeira. Não podemos dizer a uma criança que a caixa amassada no chão na rua é "caca" e depois dizer "nós vamos ao banheiro para fazer caca".
 Deixar que perceba o que acontece sem estar de fralda.
 Vesti-la com roupas confortáveis.
 Não comparar.
 Aceitar seus retrocessos como parte do processo: haverá dias ou semanas em que mostrará muito interesse e, então, parecerá que já não lhe importa, haverá crianças que controlam o xixi, mas que irão pedir para colocar a fralda para fazer cocô, crianças que fazem uma vez no penico, mas não farão novamente por meses.
 Não repreender, não castigar, não ridicularizar, mesmo que seja de forma sutil: "Você deixou escapar de novo!", "Tão grande e de fralda", "A fralda é pros pequenos". Lembre-se de que a informação desse processo passa pela sua parte emocional e essa é a experiência do processo.
 Não forçá-lo a sentar-se no vaso.
 Não usar punições, nem prêmios, pois eles são o outro lado da mesma moeda em que os mecanismos de motivação extrínseca são postos em prática. Se o processo consiste em que a criança seja capaz de perceber que ela tem vontade e então ir a um banheiro para fazê-lo, não faz sentido ser recompensada de fora por um processo interno. Se ela não controla, não é porque não quer, é porque não pode. Aqui entram os adesivos com carinhas sorridentes, as coleções de fichas (placas com adesivos que são preenchidos de acordo com as vezes em que conseguem e, no final, um prêmio é dado), bem como os penicos musicais. Alguns podem pensar que uma recompensa não seja apropriada, mas que seja correto que nos mostremos tristes ou felizes dependendo de se eles o fazem em um lugar ou outro. Porém lembramos que o controle de esfíncteres é um processo interno que precisa de uma motivação intrínseca que vem da própria criança, que ela não deveria fazê-lo para nos agradar (para não mencionar como isso afeta a experiência emocional do processo).
Quem está no controle?
Se a criança controla, ela controla:
Se ela controlar e usar uma fralda, ela chegará a um banheiro e vai tirá-la como se fosse uma calcinha ou cueca, pois não vai querer fazer nas calças. (Isso pode ser testado colocando uma fralda em uma criança de 7 ou 8 anos e observando se ele prefere fazer nas calças "porque tem uma fralda" ou se vai preferir ir ao banheiro.)
Não haverá escapes enquanto ela estiver brincando.
Não vai dizer que não fez quando tiver feito.
Não precisamos estar perguntando de hora em hora se ela quer fazer.
Se a criança estiver consciente de seu corpo, ela poderá controlar. Se somos nós os que a sentamos a cada hora com a esperança de que algo saia (e não a levantamos dali até que saia), se somos aqueles que constantemente perguntamos se ela quer fazer, somos nós que controlamos seu corpo, não permitindo à criança estar ciente, sentir e controlar; e não esqueçamos que o objetivo é que a criança controle seus esfíncteres, não nós por elas. Mas é verdade que, se assumirmos o controle, é "mais rápido" e podemos até "remover a fralda" (o que não é o mesmo que abandonar a fralda) de crianças bastante pequenas, mas devemos estar conscientes de que, neste caso, a criança não controla os esfíncteres, mas a estamos "treinando", estamos fazendo uma relação entre "sentar no penico = cocô ou xixi" ou "estar sem roupas = cocô ou xixi", mas ela não está estabelecendo um relacionamento entre "Como eu me sinto = cocô ou xixi". Não nos enganemos, neste caso a criança não controla nada, é o adulto quem o faz.
E se eu retirar e a coisa não estiver indo bem?
Há uma lenda que diz que se você tirar a fralda você não pode voltar a colocá-la, e eu gostaria de saber o motivo.
Se percebemos que nos apressamos, que a criança ainda se suja, que se não a "sentarmos" no penico ela faz nas calças, que "não pede", sempre podemos voltar a colocar a fralda, não há nada de errado em corrigi-lo.
O que acontece se não respeitarmos o processo?
Além de todo o envolvimento emocional (tanto da criança quanto dos pais, elas o vivem com prazer ou angústia?) em crianças que tiveram suas fraldas "removidas" antes de estarem prontas, que ficaram sentadas em um penico a cada X horas, que não tiveram permissão para ouvir o corpo e senti-lo, podemos encontrar problemas tanto a curto quanto a longo prazo. A curto prazo, podemos encontrar o medo de fazer cocô, o que a leva a segurar, a sentir dor quando defeca e, portanto, a problemas de constipação. A longo prazo, se associou em meninas que tiveram suas fraldas removidas antes de estarem prontas, problemas para manter relações sexuais prazerosas quando adultas.
Às vezes, são crianças que, em vez de "controlar seus esfíncteres", aprendem a fazer força para reter e segurar seus esfíncteres.
Por outro lado, temos que pensar sobre o maravilhoso tempo de brincadeiras e aprendizado que uma criança sentada em um penico perde enquanto espera por "algo sair", se ela controla ela não precisa esperar. É quando o controle se torna um hábito.
O que acontece com o tempo?
O controle dos esfíncteres é um processo que leva tempo para permitir que os sistemas amadureçam, mas nós realmente temos tempo e damos o tempo necessário para que a criança controle os esfíncteres?
Costumamos falar sobre dar tempo à criança, mas aqui na Espanha, quando o verão dos 2 anos se aproxima, começamos a nos apressar e esquecemos que o processo precisa de tempo. Por quê? Porque geralmente não podem entrar na escola com fralda (no caso de escolaridade aos 3 anos, na Espanha, não é obrigatório fazê-lo até 6). O motivo? Porque uma norma criada pela sociedade teve mais peso do que ter em conta a fisiologia da criança. Haverá uma grande parte das crianças que irão controlar, mas também uma porcentagem que não será capaz, Sanchez e cols (1983) estabelecem que 21,1% das crianças espanholas aos 5 anos têm enurese, Font (1985) estabelece 16, 5% . Até 5 anos é normal que a criança não controle os esfíncteres (já vimos acima nos critérios da APA). Por que exigimos algo que vai contra a natureza? Será que pensamos que todas as crianças ganham o primeiro dente aos 5 meses? O que podemos fazer? Lutar contra a natureza ou colocar meios? Se entendemos o processo, se entendemos a criança, talvez seja hora de exigir mais assistentes nas escolas para que a criança que precisa possa ir de fralda e não acelerar processos que comprovadamente tem conseqüências a curto e longo prazo.
Estamos indo contra a natureza quando deveríamos ir contra crenças infundadas e normas sociais sem base.
A criança saudável acabará controlando os esfíncteres antes ou depois, temos o comando sobre como ela pode viver esse processo. Talvez se começássemos a falar sobre "abandonar a fralda" em vez de "remover a fralda", começaríamos a entender que é um processo de amadurecimento que depende da criança e não do adulto.
Por Laura Estremera Bayod, Professora de audição e linguagem, Técnica superior em educação infantil, autora de Criando.
Tradução do texto e adaptação da imagem ao português Gabrielle Costa de Gimenez @gabicbs

3 de out. de 2017

Preparando-se para a Escrita: Descanse o Lápis e Vá Brincar nas Barras!

As mãos da criança são uma importante ferramenta para o aprendizado. Com as mãos, ela controla o mundo à sua volta, constrói e cria tudo que imagina, e também se expressa – primeiro com gestos, depois com rabiscos e, por último, com a palavra escrita.
Os pais sabem da importância da coordenação motora fina – especialmente para a escrita –, e talvez por isso haja tantas perguntas relacionadas a esse assunto. Eis a minha resposta…
Deixe o lápis de lado por um tempo e vá brincar nas barras.

A ORDEM NATURAL DAS COISAS

O controle muscular e a coordenação da criança se desenvolvem de forma natural, ordenada – de cima para baixo e de dentro para fora –, começando na cabeça e avançando em direção aos dedos dos pés, e do tronco para os membros superiores (braços) e inferiores (pernas). Essa ordem de prioridade, estabelecida pelo cérebro, garante que os músculos maiores, necessários para a coordenação e locomoção (mover-se do ponto A ao ponto B), estejam bem organizados e no controle, antes de comandar os mais de 60 músculos combinados das mãos (para não falar da enorme quantidade de ossos, centenas de ligamentos e tendões etc. etc.).
Assim, você pode perceber que, na hierarquia do desenvolvimento, as mãos vêm por último.

O QUE É DESENVOLVIMENTO MOTOR FINO?

Mas isso não significa que as mãos do seu filho não estão se desenvolvendo conforme ele cresce. As mãozinhas das crianças começam com uma pegada simples, reflexa, que utiliza toda a mão. Com o tempo, os reflexos iniciais se integram, e o movimento de pinça desabrocha, permitindo à criança utilizar o dedo indicador juntamente com o polegar. A cada dia, você irá perceber mais e mais movimentos deliberados das mãos e dos dedos. Mas isso não é uma habilidade motora fina – ainda não.
Habilidades motoras finas são o controle motor de alta precisão necessário para integrar o funcionamento dos cinco dedos, possibilitando a execução de atividades detalhadas que exigem movimentos minuciosos, quase imperceptíveis, como a utilização de um lápis para escrever o nome.
Mas o ato de escrever o próprio nome não depende só do punho, por assim dizer. Na verdade, esse simples ato envolve o corpo inteiro.
O QUE É PRECISO PARA ESCREVER MEU NOME:
  1.  A parte superior do corpo deve estar fortalecida o bastante para manter a posição de pé ou sentada.
  2.  Os músculos dos ombros devem estar fortalecidos o bastante para controlar o peso do braço, e flexíveis o bastante para girar livremente a fim de posicionar o braço para escrever.
  3.  O braço deve suportar o peso do antebraço e da mão, possibilitando que a mão deslize sobre a página.
  4.  O antebraço deve fornecer um ponto de apoio firme para que o punho possa girar.
  5.  O punho deve manter a mão firme e girar para a posição adequada.
  6.  Os dedos devem se dobrar em torno do lápis, que se mantém no lugar graças ao polegar.
  7.  Juntos, os cinco dedos fazem sobre o papel uma dança de alta precisão: a) posicionando o lápis no ângulo exato sobre o papel, b) pressionando e mantendo o nível correto de pressão a fim de deixar a marca do lápis, e c) coordenando os movimentos de subida, descida, para a esquerda e para a direita sobre a página.
Se algum dos músculos nessa cadeia deixar de funcionar, escrever o próprio nome poderá se tornar uma tarefa muito difícil.
O que nos traz de volta às barras do parquinho de diversões…

BRINCAR PARA DEPOIS ESCREVER

Escalar, pendurar-se, balançar-se, bem como quaisquer outras atividades que fortalecem a parte superior do corpo e os músculos estabilizadores, são de fundamental importância como precursores das habilidades motoras finas.
Atividades que envolvem movimentos de torcer, girar, pendurar e balançar ajudam no desenvolvimento da flexibilidade e agilidade necessárias para a rotação dos ombros, cotovelos, punhos e dedos.
Empurrar, puxar e levantar o peso do próprio corpo aumentam a força física ao mesmo tempo em que auxiliam no desenvolvimento de uma compreensão intuitiva de conceitos elementares da física, como peso, pressão e resistência.
E, quando seu filho voltar da brincadeiras nas barras, “fazer bagunça” com brincadeiras sensoriais ajuda a fortalecer os músculos das mãos e auxilia na destreza. Brincar com massinhas de modelar, areia e água, barro (sim, barro!) e qualquer outra coisa que estimule o tato, proporciona uma ótima experiência sensorial para o cérebro e para as mãos, o que um dia poderá resultar em uma letra mais bonita!
Então, lembre-se: quando o assunto é preparar-se para o aprendizado da escrita, pense em brincar nas barras!
Às vezes, não é possível dar um passeio no playground para brincar nas barras. Então, aqui vão algumas das minhas atividades favoritas, que você pode fazer em casa, para ajudar no fortalecimento da parte superior do corpo e dos músculos estabilizadores. Enquanto isso, as mãos esperam sua hora chegar.

CARRINHO DE MÃO


Brincar de “carrinho de mão” pela sala ou no quintal é uma ótima maneira de fortalecer os braços (no intervalo das risadas, é claro).  Dica importante: recomendo que você segure seu filho pelos quadris, em vez de pelos pés. Isso evitará que se forme um arco nas costas, ao mesmo tempo em que diminui a carga sobre os bracinhos.

CARANGUEJO


As crianças adoram essa brincadeira, e você se surpreenderá ao ver como elas conseguem ir longe “andando” assim, com um pouco de prática. Sente-se no chão e erga o bumbum, apoiando-se nas mãos e nos pés. Então, “carangueje” o máximo que conseguir. Peça às crianças para irem para frente e para trás!

LAGARTA


Quão longe você consegue ir “andando” como uma lagarta? “Ande” com ambas as mãos, depois com ambos os pés.
Artigo de Gill Connell e Cheryl Mccarthy traduzido do inglês com permissão de Moving Smart

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...